Para nossos filhos e filhas

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Foto Arquivo pessoal: Paty Viale com a filha Maria Rita

Escrevi este texto em 17 de outubro de 2008, grávida de Maria Rita. Divido estas palavras aqui na coluna para nos sensibilizarmos e pensarmos no presente e futuro que estamos construindo para nossos filhos e filhas.

Dentro de pouco tempo estarás aqui, entre nós. Tenha a segurança de que será bem recebido (a), de que muitas pessoas te esperam com ansiedade e amor. São tantos os desejos sinceros de muita saúde para ti. isto é o que mais importa, pois com saúde poderás alcançar os teus sonhos e as tuas metas.

Quando me descobri grávida fiquei assustada. Para falar a verdade sou um tanto egoísta e me detive a pensar como minha vida seguiria o rumo, planejado por mim, tendo a ti ao meu lado. Nunca fui muito boa nos caminhos à dois. Não é por mal. Sou atrapalhada para manifestar meus sentimentos, abraçar, procurar as pessoas. Talvez por isto eu escreva tanto. Mas com a evolução da gravidez uma segurança foi invadindo-me. Reclamei muito dos enjoos, da azia. Fiquei pasma com os quilos adquiridos e concentrados na barriga. Tudo se tornou passageiro como um desabafo. Em seguida aquela segurança inundava-me novamente e eu tinha vontade de abraçar a humanidade. Acho que esta é a missão dos filhos na vida dos pais: fazê-los vencer a comodidade do egoísmo e fortalecer-se para construir um mundo melhor para todos.

Não sou uma otimista convicta. Muito pelo contrário. Os dias cinzentos corroem minha alma e preciso de muito esforço para me levantar da cama. Mas quando eu levanto e vou até a janela, vejo as cachorras brincando e uma paz ressurge. Apesar de tudo, os animais insistem com a vida. As árvores seguem seu ciclo. os passarinhos voltam a cantar na primavera. A vida está ao nosso redor. E intensa na sua maneira de se expressar.

Quando me vi grávida eu não conseguia pensar no teu enxoval, nas tuas roupinhas. Minha preocupação era “o que vou oferecer a esta criança?”. Olhei para os vários lados de meu mundão e do meu mundinho e fiquei ainda mais triste. Pessoas sem orientação, guerras, logros, falta de educação. O que irei te oferecer criança? Semanas atrás eu parecia uma ansiosa descontrolada querendo consertar o mundo que irá te receber. Senti ódio de quem não pensava como eu. Impus uma rotina pesada para um organismo que pede descanso temporário. Chorei muito. E tu, frágil coisinha forte, mostrou-se numa agitação sem tamanho. Sem querer deixei-me envolver pela pressão, pelo egoísmo, pelo falso poder do mundo de cá e te ofereci isto. Enquanto havia muitas outras coisas boas a te oferecer: brincar com as cachorras, plantar uma flor, arrumar a nova casa, caminhar, ler, escutar música, ajudar a quem precisa.

Meu anjinho, de largas asas que sacodem minhas costelas, não posso te dar um mundo mais harmonioso. Não posso te garantir convivência com pessoas do bem, mas posso te oferecer respeito, gentileza, amor, sinceridade e solidariedade. Esta foi a herança que recebi da vida e será esta a herança que te passarei. Acho que assim estarás preparado (a) para conhecer este mundo, ora estranho, ora lindo. Terás que aprender sobre a dor e a alegria. Terás que sentir os dias cinzas e os ensolarados. Algumas vezes cairá, mas tenhas a tranquilidade para sentir o tombo, olhar em frente e erguer-se. Minhas duas mãos estarão ao teu lado. É isto que posso te oferecer.

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