crédito: Brooke Cagle/Unsplash
Patrícia Viale
Reta final da especialização. No início da pandemia do vírus, março 2020, decidi fazer uma especialização de artes por hobby, à distância. A palavra hobby me soou tão suave e o termo à distância o mais apropriado, para quem queria estudar e estava com uma certa preguiça. Última semana da especialização e meu hobby se tornou uma acelerada busca por caracteres, leituras de textos, atualização do currículo lattes. Chega a foto inspiração para a crônica de hoje. Galhos, muito verde, muita água. Nada de letras e referencial teórico. Fico me perguntando onde estava minha sanidade quando fiz a inscrição nesta especialização?
Hoje minha única vontade é uma cadeira no sol, bíquini e água gelada. Torrar a pele e os neurônios, que insistem em tomar decisões desacertadas. O que farei com este diploma? Quanto mais me pergunto sobre isto mais penso na foto com tanta vegetação e rios. Seria uma floresta tropical? Penso em galhos, vida simples, sangue verde. Quero vida simples! Quero respirar! E se eu fosse um bichinho tipo mosquitinho ou uma minhoca?
Sei que vou entregar o artigo final e em poucos meses irei encarar uma seleção de mestrado. Sei que vou retomar a escrita de dois livros parados nos arquivos do computador. Também me conheço e reconheço que este ritmo workaholic é o que me faz ser quem sou. É meu charme. Ser quase surtada chama atenção. Só não pode surtar de vez, porque daí perde a graça. Não sei quantas vidas terei. Se serei macaco na próxima ou uma colona brasileira que planta milho não transgênico no Mato Grosso Sul. Poderia eu voltar à vida como madame de terninho e salto alto com documentos repletos de golpes e fraudes? Peço a Deus que eu retorne um inseto ou líquens. Já pensou? Ser um símbolo de pureza do ar? Ou um besouro cata bosta? Isto sim seria vida.
Meu dia a dia está sendo das coisas mais sensacionais que eu poderia imaginar. Sem ironia. Eu planto semente, cuido e nasce. Eu quis todo este ambiente de agito e excesso de palavras. Eu desejei muitos amigos e muitos sorrisos. Fazer nascer a planta é só o início. Depois tem que continuar cuidando. É óbvio que problemas acontecem. Aos milhares. Só que eu já mudei o significado deste termo: problema, no meu vocabulário, é substituído por desafio. E desafios são oportunidades ou desistências. Eu encaro de frente. Com medo, cagada de medo. Não interessa como, eu vou. Aprendi que não tem caminho para voltar, só para seguir adiante.
Bateu uma brisa aqui. A vida pode ser tão verdejante e tranquila. Preciso fechar os vinte mil caracteres do artigo. Faltam 48 horas para a entrega. Assinei um novo contrato, uma produção de textos em um trabalho com influenciadores digitais. Tudo bem, sou líquen e vivo na pureza de um ar que já existe na minha vida. Bem que o artigo poderia aceitar esta escrita mais vida.