Garrafas plásticas ameaçam a sustentabilidade do planeta
Empresa de Bento Gonçalves, a Icehot “rema contra a maré” e produz estações de hidratação que reduzem o consumo de garrafas plásticas pelas pessoas
Há cinco anos, em 2017, uma pesquisa da Global Packaging Trends Reports (Relatórios de Tendências Globais de Embalagens em tradução livre para o português), apontava para a venda de nada mais, nada menos, que 1 milhão de garrafas plásticas, por minuto, no planeta. Uma outra versão do número: 20 mil garrafas plásticas eram compradas, à época, no mundo, a cada segundo. O levantamento encomendado pela consultoria Euromonitor International e divulgado pelo jornal The Guardian, da Inglaterra, certamente deve ser ainda mais assustador em 2022, com cada vez mais pessoas comprando água, refrigerantes e vários outros produtos acondicionados em garrafas e muitas outras embalagens feitas de plástico.
Mais números: dos 12 meses de 2016 foram consumidas, em todo planeta, cerca de 480 bilhões de garrafas plásticas. Reforçando o número: 480 bilhões. No ano passado, em 2021, este consumo cresceu cerca de 20% em relação a 2016, passando para a impressionante cifra de 583 bilhões. Apenas garrafas feitas de plásticos. Não entram nesta conta os potes de margarina, por exemplo, nem as embalagens de sorvete, os frascos de iogurte, entre outras. Especialistas afirmam que o impacto ambiental provocado pelo lixo plástico, no planeta, especialmente nos oceanos, já é pior do que os danos causados pelas mudanças climáticas.
Estimativas mais otimistas indicam que menos da metade das garrafas compradas no ano passado foram recicladas. Crédito Canvas |
O plástico surgiu como uma das grandes invenções da humanidade. Leve, prático e barato, serve como embalagem para tudo. Justamente por isso é que a sua produção deu saltos gigantescos ao longo das últimas décadas. Em 1964 foram 15 milhões de toneladas de toneladas fabricadas no mundo. Em 2015, este número pulou para 322 milhões de toneladas e, em 2022, a estimativa é de quase 500 milhões de toneladas produzidas até dezembro. Um pouco disso tudo é reflexo da cultura chinesa — de “comprar água na rua” – que se espalhou pelo planeta.
Apesar de grande parte das garrafas serem feitas com polietileno tereftalato (PET), um polímero termoplástico, e perfeitamente passível de reciclagem, a quantidade de unidades produzidas por segundo no planeta torna esta tarefa praticamente impossível. As estimativas mais otimistas indicam que menos da metade das garrafas compradas no ano passado foram recicladas. O que sobra desta montanha enorme de lixo plástico vai parar em aterros sanitários, nos córregos, que vai parar nos riachos, arroios e rios, que vai parar em oceanos, poluindo praias e refúgios ambientais, matando baleias, tartarugas marinhas e destruindo a fauna e flora subaquática.
PARA SABER
1- Pesquisadores que trabalharam no levantamento para a Global Packaging Trends Reports, quantificaram o volume de resíduos que chegava aos oceanos em 2017: pelo menos 8 milhões de toneladas de plástico, por ano.
2 – Isso representa mais ou menos 5,2 trilhões de fragmentos plásticos boiando ou depositados no fundo da água.
3 – O pior: o plástico no mar é ingerido pelos peixes e nós, humanos, quando consumimos camarão, lula ou filé de cação, por exemplo, também comemos os fragmentos dos milhões de garrafas PET que vão se desintegrando e poluindo, lentamente, os oceanos.
Proliferam-se os lixões a céu aberto, contaminando a água dos rios e lençóis freáticos, o que compromete a nossa saúde. Crédito Canvas |
INFORMAÇÕES CHOCANTES
O plástico pode levar mais de 400 anos para se decompor
Como boa parte do lixo produzido pelas pessoas demora muito para se decompor e não é destinado para reciclagem, o mundo vive hoje a falta de espaço em aterros sanitários. Com isso, proliferam-se os lixões a céu aberto, contaminando a água dos rios e lençóis freáticos, o que compromete a nossa saúde. Um levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), realizado em 2017, mostrou que o Brasil tinha naquele ano quase 3 mil lixões ou aterros irregulares — o que impactava a qualidade de vida dos, então, 77 milhões de brasileiros. Hoje no país tem mais de 200 milhões de habitantes. Em algumas regiões, a situação era, e ainda deve ser, alarmante. No estado de Alagoas, por exemplo, 95% do lixo produzido pela população estava abandonado em áreas inadequadas. O plástico no meio ambiente também pode dificultar a decomposição de outros resíduos, reforçando ainda mais a superlotação dos aterros sanitários.
Até 2050, haverá mais plástico nos oceanos do que peixes
A superlotação de aterros também produz outro fenômeno: o “depósito” de lixo no mar. Aproximadamente 8 milhões de toneladas de plástico são descartados em nossos oceanos anualmente, desequilibrando o ecossistema marinho de várias formas: O plástico degrada-se em partículas menores, que são ingeridas por peixes e outros animais e aves marinhas. Sem capacidade de digestão, eles morrem de forma lenta e dolorosa. Em grande quantidade no mar, o plástico impede a penetração de oxigênio nos sedimentos, comprometendo também o ciclo bioquímico da flora marinha.
Adotar hábitos de consumo que possam reverter esse quadro é uma necessidade urgente. Crédito Canvas |
O plástico é responsável pela morte de 100 mil animais marinhos a cada ano
O fenômeno é realmente preocupante: a morte por ingestão de plástico compromete o ciclo reprodutivo das espécies marinhas e estima-se que pelo menos 15% delas, hoje, estejam em extinção. Só no caso das tartarugas marinhas, cinco das sete espécies catalogadas correm o risco de sumir dos oceanos, de acordo com levantamento da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN). As aves marinhas, como pelicanos e albatrozes, também são vítimas desse fenômeno: até 2050, pelo menos 99% delas terão ingerido plástico.
O que fazer?
A adoção de hábitos de consumo que possam reverter esse quadro pintado com tintas escuras é uma necessidade que deve se transformar em preocupação constante na mente das pessoas. E dos empresários e empresas. Uma das alternativas está sendo produzida em Bento Gonçalves por uma startup que nasceu em 2018 na Serra Gaúcha. A Icehot é uma empresa que produz estações de hidratação que ocupam cada vez mais espaços públicos no Rio Grande do Sul e em outros estados brasileiros, com a proposta de levar água potável de forma segura e higiênica às pessoas — e animais — em áreas de lazer ou de prática de atividades físicas, academias esportivas e até escolas.
Icehot instala estações de hidratação no primeiro bairro público inteligente do Brasil – Crédito Icehot |
A primeira estação de hidratação foi entregue à comunidade de Venâncio Aires, a Capital Nacional do Chimarrão, em 2018. Quatro anos depois, além de equipar áreas destinadas ao público em 65 cidades do estado, as estações de hidratação, produzidas de forma cada vez mais sofisticadas, já chegaram a Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, e ao primeiro bairro público inteligente do país (local de experimentação de novos equipamentos alinhados com a modernidade), o Vila A Inteligente de Foz do Iguaçu, no Paraná.
Com a distribuição de água potável de forma gratuita às pessoas, deixam de ser adquiridas por elas as garrafas d’água que, normalmente, depois de vazias são descartadas no lixo e acabam parando em aterros sanitários ou lixões. Nas estações instaladas na Vila A Inteligente, de Foz do Iguaçu, por exemplo, somente em sete dias foram consumidos 4.671 litros de água, o que gera uma redução de 8.476 garrafas plásticas. Ou seja, as estações não apenas atendem às necessidades de hidratação de quem está fazendo caminhadas, corridas ou pedalando para manter o condicionamento físico, mas também contribuem para a preservação ambiental.
Nas estações instaladas na Vila A Inteligente, de Foz do Iguaçu, em sete dias foram consumidos 4.671 litros de água, o que gera uma redução de 8.476 garrafas plásticas. Crédito Divulgação Icehot |
Além disso, fornecem água para os animais e estão cada vez mais modernas. As que foram instaladas em Foz do Iguaçu, por exemplo, têm sensores de aproximação e dispensam o toque manual para serem acionadas, evitando, por exemplo a contaminação pelo vírus que causa a Covid-19, o coronavírus. “A implantação das estações de hidratação resulta em ganho considerável para a saúde das pessoas, proporcionando qualidade de vida a todos que utilizam os espaços públicos da cidade. Isso faz com que a administração reinvista parte dos impostos em esforços para melhorar as estruturas de lazer do município”, dizem os sócios e fundadores da Icehot, Samuel Panta e Alex Oliveira.
(Com informações do conexaoplaneta﹒com﹒br e blogsenacsp﹒com﹒br)